Em avaliação

Cooperativas Terra Livre e Coperforte formalizam proposta à Cosulati

Parceria garantiria repasse de leite, que hoje é a principal carência para a indústria do Capão do Leão se manter em atividade e se capitalizar

Carlos Queiroz -

Uma proposta reapresentada por duas cooperativas, no começo desta semana, pode significar a retomada das atividades diárias da indústria de laticínios da Cosulati, no Capão do Leão. A intenção é de que a Terra Livre, da cidade de Nova Santa Rita, e a Coperforte, de Santana do Livramento, entrem com a matéria-prima, hoje escassa. A expectativa é de que, juntas, elas pudessem injetar em torno de cem mil litros de leite por dia. Já a Cosulati disponibilizaria o parque industrial, atualmente subutilizado. A fase ainda é de debates. O assunto será um dos pontos analisados em assembleia geral, em 4 de maio.

O diretor-administrativo da Cosulati, Almir Mendonça, admite ter recebido a proposta, mas reforça a cautela ao conversar com o Diário Popular, na tarde desta quarta-feira (20). "Estamos tentando construir algo que fique bom para os dois lados. Não temos como dar uma resposta neste momento. Não é algo tão simples quanto parece", argumenta. O departamento jurídico avalia item a item de como se daria a parceria, para que as negociações tenham chance de avançar e o tema possa entrar em votação na assembleia, com mais embasamento sobre os detalhes.

"Tomara que flua como a gente imagina", afirma Mendonça. Entre os aspectos que ainda precisaria ficar mais explícito está o tempo de duração do contrato. A possibilidade de outras cooperativas se juntarem à parceria, principalmente, para ampliar o volume de leite - já que a fábrica possui capacidade de processar até 1 milhão de litros por dia, incluída a torre de secagem para produção de leite em pó -, também integra a lista de pontos em discussão. "Cem mil litros/dia é um volume importante, hoje, mas ainda é pequeno perto da nossa capacidade", pondera o diretor.

Um outro CNPJ precisaria surgir

A proposição defendida pela Terra Livre e Coperforte inclui a criação de um outro Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), no formato de Sociedade de Propósito Específico (SPE), que permita às duas cooperativas - que não possuem parque industrial - investirem forte na participação de licitações, como já têm feito. Ambas encontraram na venda de produtos como leite em pó e manteiga ao programa de Merenda Escolar um dos principais nichos para entrar e permanecer nesse mercado. A própria Cosulati costumava participar dos processos licitatórios, mas com as dívidas e a impossibilidade de apresentar certidão negativa, fica automaticamente eliminada.

"Mas esta não é uma proposta pronta e acabada. Queremos trabalhar na construção de outros mercados", destaca o porta-voz das duas cooperativas, o advogado Elbio Senna. "Queremos levar avante um novo projeto e repaginar a história", reitera. E fala com o sentimento de quem, mesmo atuando profissionalmente em Porto Alegre, é natural de Santa Vitória do Palmar e sabe a importância da Cosulati para toda a Zona Sul. Inclusive em 2016, quando a cooperativa anunciou a autoliquidação, Senna participou do processo de avaliação econômica e de debates para reestruturação das unidades.

Sindicato da Alimentação destaca drama atual dos funcionários

A situação dos trabalhadores é dramática. "Têm famílias com dificuldade para se alimentar. A situação só se agrava", preocupa-se o presidente do Sindicato da Alimentação, Lair de Mattos. Seguem em aberto 25% dos salários de janeiro, além dos vencimentos de fevereiro e de março. O 13º salário de 2021 também não foi pago. E as pendências não param por aí. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) também não tem sido depositado.

"Hoje a Cosulati é só um nome. Por isso, precisamos de mudança", cobra. E lembra que a cooperativa possui um tripé fundamental para os bons resultados: bacia leiteira de qualidade - embora em quantidade reduzidíssima neste momento - planta para beneficiamento e funcionários capacitados. "E foi por causa dos produtores e dos trabalhadores que, ao longo dos anos, a Cosulati passou a ter uma das marcas mais respeitadas do país", reitera o líder sindical.

E ao projetar a possível parceria entre Cosulati, Terra Livre e Coperforte, Mattos admite: vê a alternativa como viável. "É uma das medidas para evitar o que a gente mais teme, que é o encerramento das atividades".

Relembre

Nos últimos meses, a indústria de laticínios da Cosulati tem funcionado apenas de uma a duas vezes por semana. Com uma média que não ultrapassa os quatro mil litros de leite por dia, não há matéria-prima para manter as operações. E o cenário tem sido o mesmo: luzes desligadas, maquinário parado e funcionários em casa, à espera de chamamento. Além dos operários, os produtores também não têm recebido e, atualmente, só 30 famílias repassam a produção à cooperativa.

Uma ação em andamento no Ministério Público (MP) apura a suspeita de desvios de verba acumulados ao longo dos anos na Cosulati. Conforme o andamento das investigações e de uma possível responsabilização, a cooperativa poderia restabelecer milhões ao caixa e sair da grave crise em que foi colocada.

 

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